quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sobre formas de encarar a vida

Parece até estranho, mas são dias ruins que me dão inspiração e vontade de vir escrever aqui. Não é porque eu sou pessimista ou goste de sofrer, não. Não sou sadomasoquista e nem gosto de atrair coisas ruins para os meus dias, mas parece que eles dão certa emoção à vida.

Pensa só, seria muito chato se tudo desse certo. Não teria nada pra contar e não seria assim tão interessante para os outros porque ninguém liga se tudo saiu como planejado pra você. Quero dizer, ninguém a não ser os seus pais ou alguns amigos. O resto não liga se a sua receita de bolo deu certo, se você e o seu namorado fizeram aquela posição do kama sutra sem câimbras ou se você ganhou na loteria. Normalmente quando as coisas são boas as pessoas tendem a invejar, mesmo sem querer, e aí as coisas desandam. Você e o seu namorado brigam porque a posição não foi tão boa ou ele queria comer pizza ao invés de sushi naquele dia e ficou remoendo isso até finalmente falar com você; ou então o seu bolo não deu assim tão certo e as pessoas só disseram aquilo pra te agradar, mas depois de uns dias a verdade finalmente veio à tona quando você foi com a sua família a um restaurante e eles disseram “Nossa, mas esse bolo tá MUITO melhor que aquele seu, o outro tava massudo, sei lá hahahaha”; ou que na verdade você não ganhou dinheiro na loteria, mas sim um prêmio de consolação.

É por isso que ninguém gosta muito de comentar as conquistas. Ninguém que eu digo que tenha um pouco de juízo na cabeça e já tenha tido experiências suficientes para entender que se você quer que algo dê certo, evite ficar explanando. Guarde com você. Só conta depois que terminou ou já deu certo. As chances de sucesso são melhores.

Claro que vez ou outra algo ruim acontece, mesmo você não tendo falado nada pra ninguém e nem ter saído da sua casa. E ou você fica bravo com cada coisinha errada que acontece, ou releva.

Pra um estranho que não me conhece e só me vê conversando com as minhas amigas e elas rindo, nunca poderia imaginar que na verdade eu estou contando algo de ruim que aconteceu no meu dia. Nem mesmo quem me ouve contando entende que o que estou relatando foi ruim. Não que todos sejam insensíveis, mas existem várias formas de contar uma coisa, e eu sempre escolho a divertida. Todo mundo gosta de rir do sofrimento dos outros. Não é à toa que em filmes de comédia tem sempre alguém que toma no cu e todo mundo ri à beça.

A vida imita a arte.

Uma colega me perguntou quando foi que eu comecei a usar esse artificio. Honestamente não lembro. Só percebi que era muito melhor contar uma coisa ruim de uma forma divertida, do que contar de uma forma igualmente ruim. Eu ficava de mau-humor, aumentava o problema, e ninguém sabia o que fazer e eu acabava ficando irritada com as pessoas.

Mas ao fazer graça, todo mundo ria - inclusive eu -  e os problemas pareciam diminuir e quando me dava conta nem ligava tanto assim se o bolo estava ruim, ou se o namorado estava bravo e se o prêmio da loteria não era dinheiro como eu esperava.  Eu começava a ver o dia com outros olhos.


E recentemente eu comecei a fazer algo ainda melhor. Sempre quando eu lembro, começo a escrever em um papel tudo de bom que aconteceu no meu dia. Podem ser coisas mínimas como pegar um ônibus e ter lugar pra sentar, ou encontrar 10 centavos no chão. Qualquer coisa que aconteça e que tenha sido consideravelmente boa, eu anoto. E toda vez que algo ruim acontece e eu fico bloqueada emocionalmente pra sentir algo bom, eu leio o papel e tudo passa. Parece estúpido, mas realmente funciona pra mim. Às vezes não tem jeito, você tem que ficar bravo mesmo, mas pra que ficar bravo eternamente por uma coisa que já aconteceu?

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