domingo, 12 de outubro de 2014

Sobre correspondência

Quando comecei a trabalhar, a primeira coisa que pensei foi:
“Graças aos Deuses, agora eu posso ter um cartão internacional e comprar várias coisas!”

Talvez não tenha sido exatamente isso, mas com certeza foi uma das coisas que passou pela minha cabeça quando assinei o contrato e recebi o meu primeiro salário. 
A primeira compra foi uma garrafa do Totoro e uma case de plástico para o meu passaporte, só para aproveitar o cupom de desconto que ganhei assim que criei uma conta no Ebay. Preferi comprar coisas baratas porque, caso não desse certo, pelo menos eu não teria perdido muito dinheiro.
Demorou uns três meses para chegar (Obrigada, Curitiba), mas pelo menos chegou.

Depois disso, passei a comprar mais. Não tanto porque sempre demora anos para chegar e eu prometi a mim mesma que iria esperar as encomendas velhas chegarem antes de fazer pedidos novos.  É uma boa promessa porque dessa forma eu não gasto que nem uma louca...

Enfim, no meu prédio antigo, por ter menos apartamentos, o próprio porteiro levava as encomendas para a gente, ou a qualquer hora nós podíamos pegá-las porque sempre tinha alguém na portaria, ou então eles costumavam interfonar para a nossa casa e dizer que o entregador tinha deixado alguma coisa para a gente. Então você sabia a qualquer hora que tinha coisa nova esperando!
Mas agora as coisas são diferentes.


Depois que me mudei, tive que me acostumar com várias coisas. Dentre elas, o sistema de correspondência desse prédio, que é 20x maior do que o antigo.
O pessoal desse prédio não interforna mais, ao invés disso, eles preferem deixar um bilhete debaixo da porta, o que deixa a Layla maluca.


Agora que eu já estou mais acostumada, já sei que toda vez que a Layla late à noite é por causa de alguma encomenda, e não por que tem um fantasma andando pela nossa casa. Em parte foi bom, perdi um medo.

Então, toda manhã após uma latida noturna,  eu já acordo pensando em um jeito de pegar a encomenda sem me atrasar toda. Mesmo morando com três pessoas, nenhuma delas parece se interessar muito para descobrir o que será o misterioso pacote que chegou.

Mas eu não consigo. Deus me fez curiosa, e eu passo o dia inteiro pensando no maldito pacote. Será que é pra mim? Será que é uma roupa? Um livro? Um docinho? O que será?



Esse prédio novo estabelece um horário para a retirada de encomendas: “Entrega de correspondência de 7h às 19h”.

Não vou nem discutir o quão ridículo esse horário é, porque tirando dona de casa, empregada, e alunos de escola, acho que ninguém mais está em casa a essa hora. Ainda mais morando na Barra da Tijuca, que é tudo longe, sempre engarrafado e se você quer chegar na hora nos lugares tem que sair de casa super cedo. Voltar pra casa depois do trabalho também é outro sacrifício.

Mas, a partir do momento em que o prédio coloca uma placa estabelecendo um horário,  eu presumo que a pessoa responsável pela entrega o cumpra.
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Né?
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Como nem tudo na vida são flores, óbvio que a mulher não está lá 7h em ponto. Ao invés disso, eu normalmente fico esperando ela por mais 10 minutos até finalmente pegar a minha bendita encomenda.

Claro que se fosse o contrário, se fosse o caso de dar 19h e eu chegasse 10 minutos atrasada, a moça não estaria mais lá. Claro que não. Quando desse 18h45 ela teria ido embora.

E eu teria que esperar até o dia seguinte, ou até Deus sabe lá quando para pegar a minha correspondência.



E adivinhem só? 
A correspondência pela qual eu fiquei procurando formas de pegar não era pra mim.






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