Posso não ter postado todos os dias, mas a falta de postagens indica que a viagem foi ótima, mas não ótima do tipo que vocês iriam querer saber.
Eu não fiz muitos passeios depois da Ilha Victoria, e nem vi mais coisas que turistas iriam querer ver.
Nos meus demais dias em que não escrevi nada aqui, passei me divertindo e rindo com amigos, passei momentos de pura alegria que fizeram com que os meus dias passassem voando, e que quando chegava a hora de ir dormir, eu deitava na cama esperando ansiosamente pelo dia seguinte e não me dava conta de que cada dia seguinte, resultava em um dia a menos ao lado deles.
No meu penúltimo dia, saí da escola e esperei pelo meu amigo, o Benjamìn, que é um dos caras mais maneiros que eu já conheci. Durante os demais dias, eu sempre esperava por ele (ou vice-e-versa) para voltarmos juntos pra casa. Eu não falava muito no início, mas não por falta de assunto, mas por falta de palavras; depois de uns dois dias, eu deixei pra lá e tentava falar mesmo sabendo que provavelmente estava errado e fazia mímicas se a coisa era muito ruim.
O Benjamìn entendia na maioria das vezes.
Sempre nos reuníamos no quarto de alguém (ou no quarto dele, ou no da Michelle, ou no da Io, uma outra amiga que fiz lá) e decidíamos o que íamos fazer.
Primeiro eu e Benjamìn nos despedíamos no elevador e ele ir pro quarto da Io (que era vizinha dele), e eu ia pro quarto da Michelee, que não era a minha vizinha, mas e daí? Depois ou nos encontrávamos no lobby, ou normalmente no quarto da Io.
No meu penúltimo dia, ficamos no quarto do Benjamìn porque Io queria tirar um cochilo antes. Acho que ele não estava esperando por isso porque falou:
- Ahn.... PERA
E fechou a porta por um minuto.
- Pronto, podem entrar agora!
Quando isso acontece vocês devem pensar que ele arrumou o quarto ou coisa do tipo, certo? Mas não.
- Eu só fechei a porta do banheiro, gente. Desculpem a bagunça, hoje foi meio difícil levantar.
Eu realmente deveria ter tirado uma foto daquele quarto, mas estava muito ocupada rindo e tentando respirar. O quarto estava mesmo uma bagunça, mas ninguém ligava.
Quando a Io apareceu, fomos comer sushi em um restaurante ali perto. Não pudemos aproveitar muito do ambiente porque o restaurante já estava fechando e a garçonete já estava apressando a gente pra comer etc.
Não contei para vocês, mas terminei a viagem com 6$ e alguns centavos. E mesmo meus amigos sabendo disso, me convidaram pra jantar e me pagaram comida. E gente, se isso não é amor, eu não sei de mais nada nessa vida.
Ficamos mais um tempo conversando no quarto do Benjamìn, e depois a Michelle foi dormir porque queria acordar de madrugada pra me dar tchau, e depois a Io foi dormir também porque queria fazer a mesma coisa. Normalmente, quando todo mundo sai, eu saio também porque sei lá, pode ser estranho ficar sozinha no quarto, e eu sempre acho que a pessoa quer dormir, mas o Benjamìn disse pra eu ficar, então eu fiquei, porque não queria dormir.
Mesmo a minha viagem sendo um dia inteiro de viagem, eu não dormi. Ao invés disso, fiquei conversando com ele a madrugada inteira. Acho que nem eu ou ele pensávamos que o assunto ia durar tanto, mas foi o que aconteceu. Quando deu 3:40 ou algo assim, achei melhor ir no meu quarto rapidinho pra tomar banho e terminar de guardar as coisas na mala, até porque, acho que ele queria fazer algumas coisas também.
Quando terminei de fechar a mala definitivamente, dei uma bela olhada. Eu sabia que ela tinha mais de 32kg. O Benjamìn sabia que a mala tinha mais de 32kg. Io sabia. Michelle sabia. O taxista sabia. Até a família de guaxinins que eu vi mais cedo sabia que aquela porcaria de mala tinha bem mais do que 32kg e que ela não ia passar pela segurança.
Mas hey!
Não custa nada tentar e ser otimista, certo?
Às 5h Io e Michelle se juntaram a nós e eu tentei fazer com que tudo ficasse bem, ou menos triste, mas não sei se consegui. Toda hora em que o assunto morria todo mundo olhava para a minha mala gigantesca e pensava no que ela significava.
Quero deixar registrado que esse foi um dia de fortes emoções.
Não bastando o fato de ter que sair de Vancouver deixando um pedaço do meu coração com cada um dos meus amigos e com a cidade, ou ter que fazer isso contra a minha vontade, o transfer de volta não apareceu. (o transfer é o responsável por buscar você no aeroporto, e de te levar de volta) O que foi muito estranho porque o transfer de volta de um grupo de brasileiros que só iam embora 6:30 já estava lá. E o meu que era 5:20, nem sinal.
Isso mesmo, e ele nunca apareceu. Pelo menos eu não esperei por ele.
Acontece que a mulher da agência simplesmente confundiu os horários e me marcou para voltar 5:20 da TARDE, sendo que o meu vôo era de manhã. Como eu ia fazer pra voltar pra casa seguindo essa lógica, eu simplesmente não sei. Talvez a Vida estivesse me testando pra ver se eu voltava ou não pra casa... Mas bem, muito a contragosto, fiz a escolha "certa".
Depois da confusão do transfer, meus amigos chamaram um táxi pra mim que (infelizmente) chegou em 2 ou 5 minutos. O taxista ajudou o Benjamìn a colocar a mala no carro e depois entrou para aguardar a despedida.
Fiquei surpresa e ao mesmo tempo feliz com o abraço recebido e contei até 10 pra não chorar, porque seriously, não gosto de chorar na frente dos outros. Me senti muito especial naquele momento, e queria que tivesse durado pra sempre, mas não durou.
Mas foi nesse momento em que deixei um pedaço de mim com eles, e peguei um pedaço deles pra mim também.
Entrei no táxi e acenei pra eles e eles pra mim. E mesmo quando eles saíram do meu campo de visão, continuei acenando.
Acenando.
Acenando.
E acenando.
Meu braço dói agora, mas outras partes de mim doem bem mais.
No táxi fiquei em silêncio.
No aeroporto descobri que já tinham pago a corrida, aqueles safados!
Também foi no aeroporto que começou o meu dia super maneiro. n-n
Preparem as pipocas e se acomodem nas cadeiras que lá vem história.
AS AVENTURAS DA RAPOSA APRESENTAM:
A RAPOSA E SUA INCRÍVEL VOLTA PRA CASA.
Sabia que a dificuldade para locomover a mala era um mau sinal. E que o comprimento do vestido escolhido para uma viagem sozinha não era o mais indicado. E que a falta de relógios pelo caminho e no aeroporto não era um bom sinal, mas estava muito ocupada tentando levar a mala e tentando não ficar triste por estar voltando pra casa para reparar nesses detalhes.
E pra que se stressar com detalhes, né?
Né?
Tentei antecipar meu check-in pela internet durante três dias, e em nenhum deles obtive sucesso. Acabei tendo que fazer check-in em umas das máquinas na hora mesmo. Enquanto fazia o check-in, uma moça se esgueirou entre a fila e cochichou no meu ouvido:
- Sua mala tem mais de 32kg?
Nessas horas eu me pergunto porque eu não minto. porque não dizer simplesmente "não, minha mala é normal e aceitável, ela só parece um pouco grande"? Por que não mentir?
Por que???????
- Ahn... Não sei.
- Vamos pesá-la! - Ela disse sorrindo e tentando carregar a minha mala até a balança, mas desistiu depois de ver que bem, minha mala não tinha menos de 32kg mesmo.
POR QUE NÃO MENTIR??????????
- Hum... - ela me olhou ainda sorrindo - Sua mala tem 20kg a mais. Você vai ter que tirar umas coisas.
Por queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Graças a Deus eu tinha uma sacola gigantes para tirar algumas coisas e levar na mão. Tive que abrir a mala na frente de todo mundo umas três vezes até que consegui deixa-la com exatamente 32kg.
"Que bom, Paula, então tudo acabou bem" alguns podem pensar.
Esses que assim pensam desconhecem a verdadeira face da Vida: a de querer te sacanear até você ficar estatelada no chão.
Estes que assim pensam esquecem ou não perceberam que eu tirei 20kg da minha linda malinha e agora teria que carrega-los por todo o aeroporto.
Estes que assim pensam, esquecem ou desconhecem o fato de que eu estava sozinha e a minha mala é quase do meu tamanho.
Eu não sei vocês, senhoras e senhores, mas não acho que tenha acabado bem.
Eu devia estar a cara da derrota carregando uma mala maior do que eu, uma sacola de feira cheia de coisas, uma case de câmera, e mais uma mochila gigante, além de esta usando um vestido ridiculamente curto para a viagem. Mas tudo bem, ninguém ali pagava as minhas contas mesmo.
humpf
Na imigração, a mulher pediu pra ver a minha sacola de feira, e então começou a tirar todos os meus líquidos: shampoo, condicionador, loção corporal (sniff), protetor solar, sabonete líquido, enxague bucal e até mesmo o meu pote gigante de manteiga de amendoim. Sim, até mesmo comida essa gente tirou.
- Nossa, menina, nada disso pode no vôo.
- Eu sei, mas tive que tirar por causa da mala, tava muito pesada.
- ... Você podia ter tirado sapato ou coisa assim. - ela me disse com olhar de pena.
AH SÉRIO? COMO SE EU TIVESSE TEMPO DE FICAR PENSANDO NESSAS COISAS
-... É... Mas o que estava pesando era isso, e eu estou meio atrasada, então.
- Se quiser, você pode despachar com a mala, mas custa 25$ a mais e você vai ter que voltar todo o caminho.
Mas nem fodendo. Sinto muito, manteiga de amendoim, mas não.
- Ahn, deixa pra lá.
- Tem certeza?
- Tenho.
Tchau, manteiga de amendoim. Sentirei saudades.
Depois de finalmente sair da imigração, segui para o meu portão de embarque. Não sei se vocês lembram, mas os aeroportos de Vancouver e Houston são gigantes. Sério.
E adivinhem onde era o meu portão? Exatamente. Não do lado da imigração, mas do outro lado do aeroporto.
E eu não podia correr pois tinha uma sacola de feira carregada, uma case com câmera e uma mochila gigante.
"Que horas são?" Pensei, pois fazia um bom tempo que não via um relógio. Nem vi que horas me despedi de todo mundo e entrei no táxi.
Enquanto me dirigia para o portão, procurei com os olhos um relógio, mas os que encontrava me mostravam uma realidade que não queria acreditar. Andei mais rápido conforme me dava conta de que não adiantava mentir para mim mesma.
Eram 6:55, e o meu avião partia às 7h. Comecei a tentar correr, e de repente olhei a TV para ver o estado do meu vôo e meu coração parou quando li ˜closed˜.
Closed.
C-L-O-S-E-D
Acho que nem quando a loja de tacos de Vancouver estava fechada eu fiquei tão aflita.
Foi nessa hora que eu caí no chão.
"Calma, Paula. Talvez ele ainda esteja lá, anda. Levanta"
Sim, pensei ainda no chão, talvez ele ainda esteja lá. Eu só preciso levantar.
Levantei e não parei pra prestar atenção nas pessoas que me olhavam, e não parei pra pensar em como tudo doía mais agora. Tudo o que eu pensava era no meu maldito avião que decolou sem mim.
Devo ter parecido uma maluca diante das aeromoças. Toda suada, cabelo atrapalhado, óculos esquisito, raiz por fazer, toda carregada, vermelha, machucada, a ponto de chorar, sem ar, e nem me perguntem como o meu vestido estava.
Perguntei a uma das aeromoças sobre o meu vôo.
- Oh - ela disse - Você ficou presa na imigração, certo?
- Sim...
- Tudo bem. É normal. Vou tentar te encaixar no próximo vôo, ok? Mas todos eles estão cheios, então você vai ter que esperar até o último minuto para embarcar.
- Ok.
O próximo era só 11:30 AM.
Eram 7:10.
- Ok. Vou ficar esperando.
Sentei e esperei. Achei que era hora de ligar pra minha mãe. Odeio ligar pra ela quando tenho um problema, porque me sinto meio retardada, como se não soubesse resolver ou fazer nada, mas ainda dependo dela, então...
Ela ficou meio stressada, o que me acalmou. Acho que quando você encontra uma pessoa mais stressada que você, você meio que transfere tudo pra outra pessoa. heh Foi mal, mãe.
Pra relaxar, resolvi ler o que os meus amigos tinham escrito no meu diário. Mas eu devia ter escutado o Benjamìn! Não devia ter lido no aeroporto. Só fiquei mais triste e infeliz.
Cogitei a ideia de deixar tudo ali e voltar. Mas não, disse uma voz na minha cabeça, você não pode.
Não chorei, mas fiquei triste e senti saudades, saudades essas que agora me sufocam.
Me sinto até mal pelas porcarias que escrevi para eles depois de tantas coisas bonitas que eles escreveram e me mostraram.
Depois de me recompor um pouco, achei melhor comprar uma mala. De jeito nenhum que eu ia andar que nem um camelo pra lá e pra cá durante horas.
Mas com que dinheiro? Eu só tinha 20$ e alguns centavos (Thanks, Benjamìn!). Tive que recorrer a minha mãe, de novo.
Pelo menos deu tudo certo, e eu comprei a mala.
Peguei o avião.
Fiz a minha conexão.
E voltei pra casa.
E agora to aqui.
*suspiro*
Dicas time!
- SEMPRE RESERVE 200$ OU 400$ PARA EMERGÊNCIAS. SEMPRE. NÃO GASTA TUDO EM BESTEIRA. PELO AMOR DE DEUS.
- Chinelo é sempre uma boa ideia, galera. Me arrependi de não ter levado nenhum.
- Não acredite quando te disserem que o Canadá é frio no verão: não é!
- Se tiver que tirar coisa da sua mala, tira roupa ou sapato, deixas coisas de banheiro, caso contrário, diga adeus ao seu shampoo e loção corporal.
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