domingo, 26 de outubro de 2014

Sobre eleições


Eu até ia escrever sobre outra coisa, mas aconteceu uma situação tão bizarra agora há pouco que eu não estou sabendo lidar.

Assim que me mudei, uma amiga minha veio aqui em casa e me disse que achava a Barra da Tijuca um lugar interessante de se viver porque é tudo muito colado. Os prédios são quase grudados, os apartamentos são separados por uma parede muito fina, e da nossa janela a gente pode ver a intimidade de vários vizinhos, é como se fosse um Big Brother só que sem as câmeras e a casa e as festas (se bem que tem festas de vez em quando, sim).

Sinceramente não curto isso, acho muito invasão de privacidade. Não tenho mais o direito de andar como eu quero pela casa porque tem sempre um vizinho na varanda, ou quem sabe me olhando da janela. Cortar as unhas, aparecer com a cara horrorosa, ou só olhar a paisagem, não dá. Tem sempre alguém observando seus movimentos. É bem desconfortável, mas também é engraçado.

Hoje, com o resultado das eleições, pude vivenciar um fenômeno que eu só tinha notado na época da Copa, e por isso associei com o frenesi do futebol. Fenômeno esse que a minha amiga explicou da seguinte forma: “É como se a Barra fosse um grande organismo vivo, né? Como se cada janelinha fosse uma célula e elas respondessem aos estímulos vibrando ou sei lá”. 



E é realmente isso que ocorre aqui onde moro. Por tudo. Não só pela Copa. Toda vez que acontece algo muito bombástico tipo o resultado de um jogo de futebol; ou filme; ou então da eleição, esse povo aqui vai pra janela/varanda e começa a gritar e protestar. É uma coisa de louco.

Minutos antes do resultado:
-       DILMAAAAAA!
-       AÉCCCCIOOOOOO
-       FORA PTTTT
-       FORA PSDB!
-       NÃO FALA MERDA.
-       FALO O QUE EU QUISER, CALA A BOCA.
-       CALA A BOCA JÁ MORREU
-       FORA AÉCIO
-       VOLTA PRO NORDESTE
-       SEU FACISTA. EU VOU GRAVAR E COLOCAR NO YOUTUBE.
-       PODE GRAVAR E ENFICAR NO CU
-       TAMO PRECISANDO DE BOLSA EDUCAÇÃO PRA VOCÊ APRENDER A SE COMPORTAR

Minutos depois:

-       AEEEEEE, DILMÃE
-       VERGONHA. BRASILEIRO TEM QUE SE FODER.
-       CALA A BOCA, SEU TUCANO.
-       COMUNISTA, TÁ FELIZ COM A DILMA. MAIS QUATRO ANOS NA MERDA.
-       HAHAHAHAH NEM EM MINAS ESSE HOMEM FOI ELEITO
-       FORA PT
-       CHORAAAAAA

E enquanto todos estavam lá se esgoelando pelo seu candidato, alguém grita:

- QUEREM CALAR A BOCA QUE EU QUERO DORMIR. AMANHÃ EU TRABALHO CEDO. PUTA QUE PARIU.

Como eu disse, um bando de loucos, mas não deixa de ser engraçado.  

Então, nessas eleições tiveram: petistas, tucanos e gente que, como eu, só queria paz para dormir.

domingo, 19 de outubro de 2014

Sobre ser gringa na própria cidade


A reação é sempre a mesma quando digo que sou do Rio para algum estrangeiro:
-   OH, RIO DE JANEIRO, FUTEBOL, CARNAVAL

Ou para alguém da cidade:
 - Nossa, nem parece! Parece européia!

Quando a pergunta "O que tem de legal no Rio além de praias" surge, eu sempre acabo ficando horas e horas pensando o que se pode fazer além do óbvio. Não que a cidade se resuma a isso, mas é que eu sei tanto quanto eles sobre a Cidade Maravilhosa: nadinha.

Não sei se isso tem a ver com o fato de que eu sempre morei no Rio de Janeiro, mas eu nunca me interessei pelas coisas que tem aqui ou reparei no quanto ela é bonita. Pra ser sincera, eu acho a cidade até um pouco feia. Quente demais. Muito cheia, tumulto, pessoas.

Por isso não me peçam dicas de turismo caso venham para cá. Não vou saber dizer nada muito além do que o Google mostrar.

De vez em quando sempre acontece de me confundirem com gringa. Claro que depois que eu abro a boca veem que não (valeu, sotaque), mas até mesmo quem é daqui às vezes acha que eu não sou carioca.

Na maior parte das vezes, eu até curto fingir que sou gringa porque ou as pessoas me tratam infinitamente melhor, ou então é muito engraçado ficar vendo elas tentando falar comigo.

Isso aumentou um pouco esse ano, com a Copa.

Essa situação acontece sempre no ônibus. Ou em algum transporte público. Normalmente é só o trocador do ônibus zoando com a minha cara porque eu não sei os nomes das ruas, ou então quando eu quero descer em Copacabana e pergunto se já chegamos quando o ônibus ainda está passando na Praia da Barra. Coisa que até mesmo um gringo saberia reconhecer, mas para mim não diz nada.

Quando é assim é de boa. Eu levo na esportiva. Mas também tem aqueles caras que abusam.
Tipo o taxista que queria me cobrar R$180 do Galeão (aeroporto) até a Barra. Ou o cara do sorvete na praia que queria me vender um picolé de brigadeiro por R$18.
Ou então o caso mais recente, de novo do trocador de ônibus, que foi mais ou menos assim:

Saindo do trabalho na Sexta-feira, peguei o meu ônibus para ir à faculdade. A passagem agora custa R$3 (ir pra rua não funcionou, né?), mas eu só tinha R$10.
Não precisa ser um gênio da matemática pra fazer essa conta. Eu sei até que um cara de humanas conseguiu perceber que eu tinha que receber de troco R$7 (Falo isso, mas tive que checar nos dedos se era isso mesmo...).
Só que a moça só me deu R$2.

-    Moça... Tá faltando.
-    Não tá não. – E aí ela apontou para a plaquinha com o preço da tarifa.
-    Sim, moça. Eu sei. Mas eu te dei R$10.
-    Tem certeza???????
-    Absoluta.
-    Tem certeza? Qual foi a cor da notinha que você me deu?
-    ... A rosa, moça. A de R$10.
-    Tem certeza? Eu acho que você me deu a de R$5, que é a roxa.
-    Moça... Eu sei ver cores e eu tenho certeza que te dei a de R$10.
-    Se você diz... – E me deu o troco certo dessa vez. – Mas acontece que vocês, gringos, sempre se enganam.


Bem, moça, só quero te dizer uma coisa:
 Você pode ser a gringa de amanhã, estar em um país estrangeiro, dar o dinheiro certo para a trocadora, e ela dizer:

uéeeeee, você me deu a quantia errada, são mais 10...

domingo, 12 de outubro de 2014

Sobre correspondência

Quando comecei a trabalhar, a primeira coisa que pensei foi:
“Graças aos Deuses, agora eu posso ter um cartão internacional e comprar várias coisas!”

Talvez não tenha sido exatamente isso, mas com certeza foi uma das coisas que passou pela minha cabeça quando assinei o contrato e recebi o meu primeiro salário. 
A primeira compra foi uma garrafa do Totoro e uma case de plástico para o meu passaporte, só para aproveitar o cupom de desconto que ganhei assim que criei uma conta no Ebay. Preferi comprar coisas baratas porque, caso não desse certo, pelo menos eu não teria perdido muito dinheiro.
Demorou uns três meses para chegar (Obrigada, Curitiba), mas pelo menos chegou.

Depois disso, passei a comprar mais. Não tanto porque sempre demora anos para chegar e eu prometi a mim mesma que iria esperar as encomendas velhas chegarem antes de fazer pedidos novos.  É uma boa promessa porque dessa forma eu não gasto que nem uma louca...

Enfim, no meu prédio antigo, por ter menos apartamentos, o próprio porteiro levava as encomendas para a gente, ou a qualquer hora nós podíamos pegá-las porque sempre tinha alguém na portaria, ou então eles costumavam interfonar para a nossa casa e dizer que o entregador tinha deixado alguma coisa para a gente. Então você sabia a qualquer hora que tinha coisa nova esperando!
Mas agora as coisas são diferentes.


Depois que me mudei, tive que me acostumar com várias coisas. Dentre elas, o sistema de correspondência desse prédio, que é 20x maior do que o antigo.
O pessoal desse prédio não interforna mais, ao invés disso, eles preferem deixar um bilhete debaixo da porta, o que deixa a Layla maluca.


Agora que eu já estou mais acostumada, já sei que toda vez que a Layla late à noite é por causa de alguma encomenda, e não por que tem um fantasma andando pela nossa casa. Em parte foi bom, perdi um medo.

Então, toda manhã após uma latida noturna,  eu já acordo pensando em um jeito de pegar a encomenda sem me atrasar toda. Mesmo morando com três pessoas, nenhuma delas parece se interessar muito para descobrir o que será o misterioso pacote que chegou.

Mas eu não consigo. Deus me fez curiosa, e eu passo o dia inteiro pensando no maldito pacote. Será que é pra mim? Será que é uma roupa? Um livro? Um docinho? O que será?



Esse prédio novo estabelece um horário para a retirada de encomendas: “Entrega de correspondência de 7h às 19h”.

Não vou nem discutir o quão ridículo esse horário é, porque tirando dona de casa, empregada, e alunos de escola, acho que ninguém mais está em casa a essa hora. Ainda mais morando na Barra da Tijuca, que é tudo longe, sempre engarrafado e se você quer chegar na hora nos lugares tem que sair de casa super cedo. Voltar pra casa depois do trabalho também é outro sacrifício.

Mas, a partir do momento em que o prédio coloca uma placa estabelecendo um horário,  eu presumo que a pessoa responsável pela entrega o cumpra.
 .
 .
 .
 .
 .
 .
Né?
 .
 .
 .
 .
 .
 .
 .

Como nem tudo na vida são flores, óbvio que a mulher não está lá 7h em ponto. Ao invés disso, eu normalmente fico esperando ela por mais 10 minutos até finalmente pegar a minha bendita encomenda.

Claro que se fosse o contrário, se fosse o caso de dar 19h e eu chegasse 10 minutos atrasada, a moça não estaria mais lá. Claro que não. Quando desse 18h45 ela teria ido embora.

E eu teria que esperar até o dia seguinte, ou até Deus sabe lá quando para pegar a minha correspondência.



E adivinhem só? 
A correspondência pela qual eu fiquei procurando formas de pegar não era pra mim.